A Unidos de Vila Isabel transformou os portões do seu barracão, na Cidade do Samba, na Gamboa, em uma galeria a céu aberto dedicada a Heitor dos Prazeres. Cinco obras do sambista-pintor foram ampliadas e estampam lonas de até 50 metros quadrados, antecipando o enredo do Carnaval 2026, que homenageia o artista leva o título “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África”.
As pinturas escolhidas retratam cenas festivas e populares — misturas de sambas, macumbas, carnavais e até o cotidiano de um ateliê — em sintonia com a proposta da escola, que prepara um desfile inspirado nos sonhos e na poética visual de Heitor. “Muitas pessoas que talvez não circulem por museus e galerias poderão contemplar algumas pinturas de Heitor nos portões do nosso barracão, conhecendo o espírito da sua poética”, observou o carnavalesco Leonardo Bora, que divide o desenvolvimento do enredo com Gabriel Haddad.
A presença da obra de Heitor no espaço da escola se conecta diretamente à proposta do desfile. “Ele foi cenógrafo, figurinista, desenhista de bandeiras, compositor de sambas e, a sua faceta mais conhecida no circuito dos museus e das galerias, um pintor desse mesmo samba”, explicou Haddad. As telas, segundo ele, representam uma “África em miniatura”, território simbólico que sintetiza o espírito do enredo.
A exposição recebeu, nesta quarta-feira (14/05), a visita da família do artista. Heitor dos Prazeres Filho afirmou ter sido surpreendido pela homenagem e destacou a importância do reconhecimento: “A gente fica maravilhado pelo reconhecimento de um artista que vem do povo e representa o povo na sua obra”.
O enredo da Vila foi anunciado oficialmente no último sábado, durante uma roda de samba na Pedra do Sal. A escolha vinha sendo cogitada nos bastidores, já que a dupla de carnavalescos assinou uma instalação na exposição do CCBB dedicada à trajetória de Heitor, que foi sucesso de público. A partir dali, segundo pessoas próximas, a ideia de levá-lo para a Sapucaí começou a ganhar força.
Nascido em 1898, apenas dez anos após a abolição da escravidão, Heitor dos Prazeres cresceu na antiga Praça Onze, berço do samba carioca. Conviveu com nomes como Pixinguinha, Ismael Silva e Nilton Bastos, participou da fundação das primeiras escolas de samba e eternizou esse universo popular em suas telas — hoje expostas em acervos no Brasil e no exterior.