Artigo – Transtorno do Jogo: uma questão de saúde pública

Diferente do uso ocasional e saudável dos jogos, o transtorno se caracteriza pelo comportamento persistente e recorrente de jogar, a ponto de prejudicar atividades pessoais, sociais, educacionais ou profissionais.

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Nos últimos anos, o avanço das tecnologias digitais transformou significativamente a forma como as pessoas interagem com o entretenimento. Entre essas mudanças, destaca-se o crescimento acelerado do mercado de jogos, que ou de um atempo recreativo para uma indústria bilionária, presente em praticamente todas as faixas etárias e classes sociais. Embora o o facilitado a jogos eletrônicos possa representar oportunidades de lazer e até desenvolvimento cognitivo, ele também tem levado ao aumento de casos relacionados ao Transtorno do Jogo, uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019.

Diferente do uso ocasional e saudável dos jogos, o transtorno se caracteriza pelo comportamento persistente e recorrente de jogar, a ponto de prejudicar atividades pessoais, sociais, educacionais ou profissionais. Indivíduos afetados frequentemente negligenciam obrigações, apresentam irritabilidade ao tentar reduzir ou interromper o jogo e continuam jogando mesmo diante de consequências negativas.
 

Estudos apontam que fatores como impulsividade, ansiedade, depressão, isolamento social e baixa autoestima estão frequentemente associados a esse transtorno. Crianças, adolescentes e jovens adultos formam os grupos mais vulneráveis, especialmente em contextos de fragilidade emocional ou falta de supervisão familiar. A pandemia da COVID-19, com o isolamento social prolongado e o aumento do tempo de tela, contribuiu ainda mais para o agravamento do cenário.
 

Além disso, o modelo de negócios de muitos jogos contemporâneos, com sistemas de recompensas, microtransações e algoritmos pensados para manter o jogador engajado, tem levantado alertas entre especialistas. Elementos típicos de jogos de azar, como loot boxes (caixas de recompensas aleatórias) e mecânicas de reforço intermitente, reforçam padrões de comportamento compulsivo.
 

O diagnóstico do Transtorno do Jogo requer avaliação clínica cuidadosa, com base em critérios bem definidos, como o comprometimento funcional e a duração dos sintomas. O tratamento envolve, geralmente, uma combinação de psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico e e familiar. Em casos mais severos, pode ser necessário o uso de medicação para tratar comorbidades como ansiedade ou depressão.
 

Diante desse cenário, a prevenção desempenha papel fundamental. Pais, educadores e profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais de alerta, como mudanças bruscas de comportamento, queda no desempenho escolar ou profissional e isolamento progressivo. Políticas públicas que regulem a indústria de jogos, promovam a alfabetização digital e incentivem o uso responsável das tecnologias são igualmente essenciais.
 

O Transtorno do Jogo é um problema de saúde pública com crescente prevalência, impulsionado por mudanças tecnológicas, fatores econômicos e vulnerabilidades psicossociais. Trata-se de uma condição complexa e multifatorial, com forte impacto individual, familiar e social. A combinação de políticas públicas, abordagens terapêuticas integradas e uso de tecnologia deve ser o caminho para mitigar seus efeitos. Pesquisas contínuas e intervenções culturalmente adaptadas também são fundamentais para avanços duradouros.

Por Ahmed El Khatib, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)

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1 COMENTÁRIO

  1. Governos Temer e Bolsonaro que trouxeram essas merdas pra cá.
    Nessas horas as bolsonaretes somem e não querem confirmar as porcarias da seita bolsonarista!

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