Durante o mês de maio, a campanha Maio Roxo reforça a conscientização sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, que afetam milhões de pessoas no mundo. No Brasil, a incidência aumentou mais de 15% nos últimos 13 anos, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, segundo dados citados pelo gastroenterologista Robisney Avelar, professor da pós-graduação em Gastroenterologia da Afya Educação Médica e membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
De acordo com o especialista, esse crescimento está diretamente ligado ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ao estresse crônico e ao uso indiscriminado de antibióticos, que comprometem o equilíbrio da microbiota intestinal. Esses fatores, combinados a predisposições genéticas, contribuem para o surgimento e agravamento das doenças.
As Doenças Inflamatórias Intestinais têm origem em uma disfunção do sistema imunológico, que a a atacar o próprio intestino. Isso ocorre a partir da perda do sistema de barreira da mucosa intestinal, aliada a um quadro de disbiose, ou seja, desequilíbrio da flora intestinal, gerando um processo inflamatório contínuo.
“Sabemos que o estresse e a ansiedade também são gatilhos importantes. Além disso, o histórico familiar tem um peso significativo, principalmente na Doença de Crohn”, explica Avelar.
Diferenças entre Crohn e Retocolite
As duas principais DIIs se manifestam de formas distintas:
– A Doença de Crohn pode afetar qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus, sendo o íleo (porção final do intestino delgado) o local mais comum. Pode causar fístulas, abscessos e estenoses.
– Já a Retocolite Ulcerativa se restringe ao intestino grosso e reto, podendo causar diarreia com sangue, pus e dores abdominais intensas, além de risco de perda de parte do cólon em casos graves.
O diagnóstico costuma ser desafiador, especialmente porque os sintomas podem se confundir com outras doenças gastrointestinais. A confirmação geralmente envolve avaliação clínica, exames laboratoriais e colonoscopia.
Avanços no tratamento
Apesar da complexidade do diagnóstico e do tratamento, os últimos anos trouxeram avanços importantes. Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o a medicamentos como anti-inflamatórios, corticoides, imunomoduladores e imunobiológicos, dependendo da gravidade da doença e da fase em que se encontra.
“Embora o custo dos medicamentos seja elevado, o o pelo SUS representa um avanço significativo no manejo das doenças”, afirma o especialista.
Campanha global
O mês de maio foi escolhido para a campanha devido ao World IBD Day (Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais), celebrado em 19 de maio. A data é coordenada pela Federation of Crohn’s and Ulcerative Colitis Associations (EFCCA), que reúne organizações de pacientes de diversos países com o objetivo de dar visibilidade ao tema e incentivar políticas públicas de saúde.
Estima-se que até 1% da população ocidental viva com alguma forma de DII — número que pode ser ainda maior, considerando os casos subdiagnosticados. A campanha Maio Roxo busca ampliar o debate sobre os sintomas, diagnóstico precoce e qualidade de vida das pessoas com essas doenças.