Estação Leopoldina já teve trem de luxo entre Rio e SP; agora, país aposta em trem-bala até 2032

Muito antes do trem-bala, o saudoso Trem de Prata conectava Rio de Janeiro e São Paulo com conforto de hotel cinco estrelas. Conheça a história da viagem sobre trilhos que marcou época e deixou saudade

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Antigo serviço do Trem de Prata encerrou as atividades na década de 90 — Foto: Reprodução

Mais de duas décadas depois da última viagem do antigo e saudoso Trem de Prata, o Brasil se prepara para reconectar suas duas maiores metrópoles por ferrovia. Agora, com alta velocidade, previsão de operação em 2032, e promessa de fazer o trajeto entre Rio e São Paulo em até duas horas. O projeto do trem-bala, autorizado em 2023 e orçado em R$ 50 bilhões, resgata um antigo sonho nacional — só que, desta vez, com um custo que já provoca debate. A agem deverá girar em torno de R$ 500.

A TAV Brasil, empresa responsável pelo projeto, prevê o início das obras em 2027. O percurso terá 417 quilômetros de extensão e paradas em sete cidades ao longo do caminho, além das duas capitais. A estimativa de público é robusta: mais de 25 milhões de ageiros por ano. Se sair do papel, será um salto de modernidade para o transporte ferroviário brasileiro, que ou décadas à margem do planejamento de mobilidade no país.

Mas, para muitos, o novo trem desperta uma sensação de déjà vu. Afinal, a ligação Rio–São Paulo já teve seus dias de glória sobre trilhos. E com muito mais charme, diga-se de agem.

Ícone da década de 90

Em 1994, uma composição cruzava esse mesmo trecho em pouco mais de nove horas, oferecendo suítes com cama king-size, chuveiro quente, serviço de bordo com jantar requintado e drinques madrugada adentro. Era o Trem de Prata, “o mais luxuoso expresso sobre trilhos do país”, como era descrito nos jornais da década de 90.

O trem saía da Estação Barra Funda, em São Paulo, e da Estação Leopoldina, aqui no Rio, em dias alternados. Com decoração inspirada em hotéis cinco estrelas e vidros blindados, o serviço foi pensado para competir com a ponte aérea, à época ainda inível para muitos brasileiros. O preço da agem ia de R$ 135 a R$ 260 — algo entre R$ 983 e R$ 1.893 em valores corrigidos.

“Esse trem fez parte da minha infância. Viajei várias vezes com meu pai que trabalhava em São Paulo, mas morava no Rio. Era divertido e íamos dormindo de forma segura e confortável. Melhor que avião, mas lembro também que ele reclamava que era cara a agem e que nem sempre era viável. Em um dos vagões tinha um bar-restaurante onde todos se reuniam. Alguns aproveitavam até para fazer negócios”, relembra a advogada Karen Toledo, de 50 anos.

Um “avião dos covardes”

Muito antes do Trem de Prata, já circulava na mesma rota o Trem Santa Cruz, em operação desde os anos 1950. Era o queridinho de artistas como Vinícius de Moraes, Elizete Cardoso e Ciro Monteiro, e ficou conhecido como o “avião dos covardes” — apelido carinhoso dado por quem tinha medo de voar, mas precisava transitar entre as duas capitais.

O Santa Cruz operou até 1991, mas foi perdendo força com o tempo. A má conservação da linha, somada à queda na taxa de ocupação, culminou no fim do serviço. O Trem de Prata tentou reverter essa maré com luxo e inovação. No início, deu certo. Nos finais de semana, a ocupação beirava os 100%. Mas os custos operacionais, problemas na infraestrutura e a concorrência crescente da aviação pesaram.

Fim do serviço

Após um período com atividades suspensas, o Trem de Prata foi reativado em 1994, com capacidade para 124 ageiros. Porém, após dois anos, o número caiu para 76 ageiros.

Em 1996, um acidente com um Fokker-100 da TAM na ponte aérea Rio–São Paulo fez aumentar a procura por vagas no trem. As centrais de reserva registraram um crescimento de 100% nas ligações, chegando a 250 candidatos em alguns dias. Nas segundas e terças-feiras, o trem costumava viajar com 50% de lotação, e 80% das agens eram vendidas horas antes da partida, no Rio.

Com o ar do tempo, o barateamento das agens da ponte aérea tornou a viagem de avião mais ível que a ferroviária. Além disso, atrasos, acidentes e a falta de manutenção adequada da linha férrea — especialmente na malha suburbana entre as duas metrópoles — causavam até interrupções nas viagens, que precisavam ser completadas de ônibus na capital fluminense.

Depois de quase quatro anos, o serviço deixou de circular em 1998, tendo como um dos principais motivos a queda no número de ageiros. O último partiu na noite de 29 de novembro de 1998 da antiga Estação da Barra Funda (EFSJ), chegando à Estação Barão de Mauá (Leopoldina) na manhã do dia 30. O fim das viagens causou comoção entre funcionários e ageiros tradicionais da ponte ferroviária entre as duas capitais. O serviço é até hoje lembrado por carinho pelos cariocas mais saudosos.

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5 COMENTÁRIOS

  1. Será um trem apenas para os ricos, porque um valor absurdo desses, prefiro viajar de ônibus mesmo, de avião às vezes encontramos valores menor, resumindo o nosso Brasil investindo sempre para os ricos porque só eles que vão usufruir. Prefiro economizar meu dinheiro do quer tempo o que adianta eu antecipar o tempo de viagem mas o meu dinheiro vai embora nas agens, às empresas de ônibus interestaduais não se preocupem, com um valor absurdo desses , vamos continuar viajando com vocês.

  2. esse trem phudhya coma minha vida – eu morava em nova iguaçu e o japeri parava pra esperar ele ar (sempre a prioridade dos ricos ne – o trabalhador que se lasque, o peão que compre um bilhete pro reveillon se quiser trabalhar, que desça longe duas estações se trabalhar perto do roquinrio, e assim vamos) – muitas vezes perdia o onibus que pegava na estação de trem pra me levar pra casa pq o trem de sampa tinha a prioridade.

  3. O ideal seriam três redes de trens regionais enfileiradas, conectando as cidades do Vale do Paraiba entre si e também às duas capitais. E tudo isso integrado a um trem semi-expresso entre Rio e SP, com apenas quatro ou cinco paradas nas principais cidades. Empregando tecnologia de média-alta velocidade (até 200 km/h).

    Não precisa e nem deve ser super trens que apostem corrida com os aviões. A idéia não deveria ser competir com os outros modais.

    O objetivo-chave do projeto deveria ser um novo modal de transporte que priorizasse o alívio da Via Dutra, e ao mesmo tempo fosse também uma opção a mais para aqueles que disponham de mais tempo e queiram evitar a muvuca dos aeroportos e o aperto dos aviões.

    Mas pelo jeito nada será feito, e tudo continuará igual.
    Tudo o que temos na mesa é um pseudo-projeto de trem-bala, recheado de argumentos suspeitos e de promessas surreais.

  4. Bom, quero muito estar vivo paea ver esse serviço funcionando de novo.
    Acredito que esse valor de 500,00, não terá a demanda esperada.
    Muito caro a agem.
    Não sei, vamos aguardar…

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