Em alusão à 23ª Semana Nacional dos Museus, o Coletivo Caju Cultural realizou, na última sexta-feira (16/05), uma emocionante ação de valorização do patrimônio histórico do Rio de Janeiro: um abraço simbólico à Casa de Banho de D. João VI, no bairro do Caju, imóvel fechado há mais de 10 anos. O gesto reuniu crianças, educadores e moradores em torno da memória local e do desejo coletivo pela reabertura desse patrimônio histórico esquecido da cidade.
Construída no início do século XIX como parte das instalações de lazer para uso da Corte portuguesa, a Casa de Banho é um marco arquitetônico neoclássico que ajuda a contar a história de um bairro que já foi nobre e repleto de palacetes, mas hoje simboliza o abandono cultural.
Localizado no Caju, um dos últimos remanescentes do período imperial na Zona Norte do Rio, o imóvel abrigou até 2012 o Museu da Limpeza Urbana, fechado por falta de recursos, após ter sido incorporado à Companhia de Limpeza Urbana no século XX.

Além de sua importância arquitetônica e histórica, a Casa de Banho está situada em um bairro que preserva camadas de memória fundamentais para compreender o processo de urbanização e expansão da cidade — do período imperial ao desenvolvimento industrial.
Para o Coletivo Caju Cultural, o abraço simbólico expressa um pedido urgente: reconhecer o valor da memória local e garantir o o das novas gerações à sua própria história.
Atualmente fechado à visitação há mais de uma década, o local apresenta sinais claros de deterioração. A comunidade e os agentes culturais do bairro reivindicam não só a revitalização da edificação, mas também sua reabertura como museu ou centro cultural comunitário.

A atividade integra o projeto “Praça, Lugar de Brincar!”, desenvolvido em parceria com a Escola Municipal Marechal Espiridião Rosas e o Parque de Material Eletrônico da Aeronáutica (PAME-RJ). Participaram estudantes da escola e do Projeto Cajuzinho, que oferece formação cidadã e cultural para crianças da comunidade.
De acordo com Fabiana Keller, gestora do Coletivo, a ação visa chamar a atenção para o abandono do imóvel que pertenceu à importante família Tavares Guerra, marco da memória urbana do Rio de Janeiro, e reafirmar o direito das crianças ao brincar e ao o à cultura em seu próprio território.
O gesto simbólico do abraço coletivo expressa o desejo da comunidade pela reabertura e revitalização do museu, além do reconhecimento do Caju como parte fundamental da história da cidade.
Durante o evento, crianças e educadores participaram de um piquenique em frente ao imóvel, brincadeiras livres e uma contação de histórias sobre a ancestralidade indígena do bairro, sua importância na história imperial e a relação com a Família Real brasileira.
“A atividade faz parte da agenda permanente do Coletivo Caju Cultural em defesa do patrimônio, da educação e da infância no bairro, reafirmando o papel das praças como espaços de convivência, afeto e pertencimento”, completa Hélder Marques, Diretor de Eventos do Coletivo.
História da Casa de Banho de D. João VI
No início do século XIX, o Caju era uma região litorânea de águas cristalinas e praias intocadas, banhada pela Baía de Guanabara. A Casa de Banho, construída para o rico comerciante de café Antônio Tavares Guerra, ficava a poucos metros do mar e ou a ser utilizada pela Família Real para tratamentos medicinais — Dom João VI, mordido por um carrapato, foi aconselhado a tomar banho de mar no local para curar a ferida.
“O Caju era uma região belíssima, de praias com areias branquinhas e água cristalina, onde não era rara a visão do fundo da Baía, tendo como habitantes comuns os camarões, cavalos-marinhos, sardinhas e até mesmo baleias”, escreveu o cronista C. J. Dunlop.
Apesar de tombado, o imóvel teve uma trajetória de abandono, com diversas tentativas frustradas de restauração e uso social, até virar Museu da Limpeza Urbana em 1996, iniciativa que trouxe nova vida ao prédio, mas que foi desfeita com o fechamento em 2012 por falta de verba.
Hoje, a comunidade do Caju e agentes culturais clamam por uma resposta efetiva das autoridades para que esse patrimônio volte a cumprir seu papel, não como uma ruína esquecida, mas como símbolo vivo de memória, cultura e identidade para a região.
Somos, no mais das vezes, um país sem memória.