Os 150 Valentes Que Superaram Esparta

Fantástica história de um punhado de portugueses que enfrentou ao menos 60 mil homens fortemente armados na Índia. Diferentemente dos trágicos 300 de Esparta, a inacreditável vitória dos 150 nunca virou filme

ment
Receba notícias no WhatsApp e e-mail
Os portugueses ao chegarem na Índia em 1498. Ilustração de Vasco da Gama, que se apresenta ao Samorim de Calicute / Fonte:  Wiki common

*Por Olav Schrader

“Scroll down for english version”

Era um mundo que ava por enormes mudanças. Constantinopla havia caído, os mapas se redesenhavam com novos poderes em posições estratégicas. Antigos eixos do grande comércio internacional mudavam de mãos. Portas se abriam e outras se fechavam. A poderosa Veneza nunca mais recuperou a pujança que tinha ao menos desde Marco Polo ligando a Ásia com a Europa. Havia chegado a hora de provar que a terra era redonda, que haveria novos caminhos para a pimenta de um reino ser trocada pelo ouro de vários. Esta é também uma história repleta de profecias, com uma espiritualidade que os livros insistem em não mencionar. Mesmo o mais ferrenho ateu e materialista há de convir que existem mais forças que o vil metal a mover o mundo, que vai à reboque de princípios, virtudes e alavancas culturais para ser reconfigurado. Uma forte cultura pode atrair a prosperidade, enquanto a prosperidade sem uma forte cultura dificilmente se sustenta.

O pequeno reino periférico de Portugal teve logo na sua origem no ano de 1139, no Milagre de Ourique, a mensagem divina, ou mito fundacional, como queiram, que o céu o protegeria. Portugal sairia vitorioso ante inimigos muitíssimo maiores porque estaria profeticamente destinado a levar a fé para povos que naquele momento nem se desconfiava que existiam. Aquele era o mesmo reino que mais tarde foi o único a oferecer asilo e proteção aos Cavaleiros Templários, perseguidos no resto do mundo, e que desde aquele último refúgio mantiveram intacto seu sentido de missão. Foram suas cruzes, ligeiramente modificadas e renomeadas para Ordem de Cristo, que adornaram as velas dos navios que se lançaram ao desconhecido. Se as riquezas e recompensas poderiam ser imensas, também sem elas havia um componente fundamental de glória e de serviço que eram como um combustível nuclear para a superação do destino.           

No início do século XVI, o Oceano Índico tornou-se um campo de batalha entre os antigos controladores e os novos pretendentes às rotas comerciais das especiarias. De um lado, estavam os árabes muçulmanos, que há tempos mantinham alianças e privilégios na Índia, especialmente nos portos da costa da região do Malabar, onde o rei, ou Samorim, da cidade de Calicute era a autoridade mais importante. A desafiar o poderoso estandarte da meia lua que detinha o comércio e bradava cinco vezes ao dia suas preces chegaram os diminutos contingentes portugueses. Para compensar sua irreparável inferioridade numérica, os portugueses contavam com tecnologia náutica e artilharia superiores, além de uma disposição rara para realizar o que parecia impossível, sustentada por uma fé que, nos dias de hoje, parece quase inimaginável.

O estopim da guerra foi a traição. Um grupo de comerciantes portugueses confiou na proteção oferecida pelo Samorim de Calicute e se estabeleceu na área sem construir um forte e sem maiores dispositivos de segurança. Não tardou muito para que fossem assassinados, no ano de 1500, por rivais muçulmanos. O Samorim se recusou a punir os agressores e os laços diplomáticos se romperam. Em 1502 Vasco da Gama bombardeou Calicute em retaliação e Duarte Pacheco Pereira chegou pouco depois, em 1503. Um fato marcante desse rompimento é que, ao chegar à Índia, Duarte Pacheco encontrou um Samorim de Calicute que, apesar do impune massacre de portugueses e do subsequente bombardeio que sofreu, ainda parecia disposto a manter uma relação cordial. Como gesto de boa vontade, o Samorim lhe enviou um valioso presente de pimenta. No entanto, Duarte Pacheco recusou a oferta com firmeza, dizendo: “a amizade não se compra com especiarias, mas se mantém com honra e justiça”. Essa recusa ao rico afago diplomático selou de forma definitiva o fim da tênue calmaria entre ambos e marcou o início de uma guerra sem retorno.

No centro deste embate estava Cochim, um pequeno reino rival de Calicute, que viu nos portugueses uma oportunidade de livrar-se da hegemonia do Samorim. A aliança com os portugueses transformou Cochim em alvo direto da fúria de Calicute. No início de 1504, o Samorim mobilizou uma gigantesca força de invasão estimada em ao menos 60 mil homens e há fontes que citam entre 80 e 84 mil homens se também forem contabilizadas as forças auxiliares. As forças do Samorim foram generosamente abastecidas de armas de fogo pelo Império Otomano e contavam também com a poderosa artilharia de canhões europeus, fornecidos por uma despeitada República de Veneza, que, na época, era também uma das potências prejudicadas pelo crescente comércio de especiarias português no Oceano Índico. Por terra, atuando como uma infantaria blindada, havia um contingente de 300 elefantes de guerra. Por mar, reuniu-se uma frota colossal de 200 embarcações. O objetivo do Samorim era claro: empregar uma força avassaladora para varrer do mapa seu pequeno rival, Cochim, e expulsar de uma vez por todas a diminuta presença portuguesa na costa indiana.  

A certeza que esta invasão esmagadora seria rápida e que cairia como um golpe violento e definitivo sobre a audácia de Cochim se esvaiu, no entanto, com a mesma velocidade do ruído dos tambores e das trombetas lançadas ao vento. Surpreendendo os interesses internacionais e os vários reinos aliados do Samorim reunidos ali, os dias e as semanas foram ando com um saldo de baixas e de estragos que não parava de crescer. aram-se mais de quatro meses de cerco total, de Março a Julho de 1504, durante os quais o Samorim ordenou sete grandes ataques fracassados que progressivamente sangraram suas tropas e seu moral. O centro da inacreditável defesa portuguesa era um fortim construído com troncos de coqueiro em apenas dois meses e, mais surpreendente ainda, não há registro histórico de baixas na pequena guarnição de 150 homens ainda que muitos tenham ficado feridos. A minguada força de aliados locais de Cochim, despreparada para um conflito daquelas dimensões, abandonou diversas vezes o combate deixando os portugueses sozinhos e quase à beira da ruina em momentos decisivos. Talvez, para entender melhor como os portugueses encararam aquela loucura de frente sem abandonarem suas posições, seja válido lembrar as palavras de Duarte Pacheco nas batalhas contra o Samorim: “a honra de Portugal não se negocia, mesmo que o preço seja o sacrifício total”. Era, de fato, completamente contraintuitivo imaginar que houvesse alguma remota chance de vitória, e é aí, pelo teor de bravura e destemor que, mesmo com resultados muito diferentes, se poderia traçar mais um paralelo entre portugueses e espartanos. 

Mas o sucesso da defesa do reino de Cochim não se deveu apenas à lendária valentia de Duarte Pacheco pois este demonstrou também uma genialidade tática decisiva durante o conflito. Aproveitando-se da mais exata previsão das marés, do conhecimento da geografia costeira e da astronomia, um campo em que era reconhecido perito, ele soube prever os momentos ideais para ataques e reforço de posições vulneráveis. Os portugueses eram tão poucos que, a depender da maré, precisavam se deslocar rapidamente de um lado a outro do perímetro defensivo para que pudesse haver alguém para fazer frente aos ataques inimigos. Foi o conhecimento cientifico, com o autocontrole e a fé que desafiavam o pavor, que permitiram que o mesmo punhado de homens cobrisse os mais variados pontos de atrito. A imensa força inimiga, que chegara para uma vitória confortável sobre aquele ínfimo reluzir de espadas, não contava com aquela inédita coreografia guerreira que executava seus movimentos com a precisão de um relógio.

Vale destacar que para além da valentia e da fé, da ciência e da disciplina, Duarte Pacheco também teceu exitosamente uma rede de inteligência e contrainteligência com agentes locais. Assim conseguiu descobrir a tempo planos para envenenar seus suprimentos, de sabotagens diversas e incêndios noturnos. No campo da contrainteligência, ele conseguiu também induzir o inimigo ao erro e fazê-lo cair em armadilhas, desorientando e confundindo os assediadores constantemente. Isso evidencia um aspecto menos comentado ainda que é a sensibilidade de Duarte Pacheco que, como portador de uma cultura agregadora, ou a conhecer não apenas a geografia local, mas também rapidamente os costumes e os códigos de amizade e de relacionamento específicos da região da costa do Malabar. E foi assim que, em julho de 1504, após meses de inacreditável resistência e sucessivas derrotas desastrosas para o Samorim, este se retirou definitivamente da região. A gota d’água turva que fez transbordar a amarga taça de sua inevitável decisão de reconhecer o fracasso foi a notícia de que, finalmente, uma frota portuguesa se aproximava para reforçar os 150 homens que, mesmo com muitos feridos, ainda permaneciam firmes. No momento de sua retirada, das cerca de 200 embarcações que havia mobilizado para esmagar Cochim, estima-se que 160 haviam sido destruídas ou capturadas por aquele punhado de portugueses. A autoridade do Samorim, líder de uma força militar avassaladoramente superior, ficou gravemente abalada. E a reputação militar portuguesa alcançou novos patamares no Oriente, atraindo aliados de todas as sortes e dos mais variados graus de sinceridade.

Ao final da campanha, o Rajá Trimumpara, soberano do reino de Cochim, profundamente grato pela defesa decisiva de sua terra, concedeu a Duarte Pacheco um brasão de armas carregado de simbolismo. Segundo o livro “História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses” de 1551, o escudo vermelho evocava o sangue derramado; cinco coroas douradas em aspa representavam os reis aliados do Samorim que haviam sido derrotados em combate; uma borda branca com ondas azuis, ornada com oito castelos sobre dois navios, simbolizava as vitórias navais dos portugueses; e sete estandartes recordavam os sete ataques que sofreram. No topo, sobre um elmo de prata, erguia-se um castelo com estandarte vermelho, representando a fidelidade de Cochim. Além do brasão, o Rajá ofereceu a Duarte Pacheco uma generosa carga de pimenta como reconhecimento pessoal. No entanto, ciente das dificuldades que o aliado e amigo enfrentava após os estragos causados pela guerra, Duarte Pacheco recusou o presente. O gesto, nobre e desinteressado, reforçou sua imagem de comandante movido por motivos além da recompensa pessoal, mas também por honra e sentido de missão, e se tornou uma notícia que se espalhou e que repercutiu na imagem dos portugueses na região.

Ao retornar a Portugal em 1505, Duarte Pacheco foi recebido com honras pelo rei D. Manuel I e celebrado como herói nacional. No entanto, com o tempo, o sucesso causou invejas e intrigas na corte. Em 1519, foi nomeado capitão da fortaleza de São Jorge da Mina, na África Ocidental. Durante sua gestão, enfrentou acusações de corrupção e abuso de poder, sendo chamado de volta para Portugal onde acabou preso. Ele foi posteriormente inocentado e absolvido pela Coroa, mas perdeu sua posição e influência na corte portuguesa para sempre. Mesmo com suas façanhas de liderança, coragem e gênio militar constarem entre as maiores jamais registradas, homens como Duarte Pacheco podiam encontrar séria resistência nos círculos da elite política, cujo campo de batalha eram os jogos de poder na corte, em disputas regadas a vinho e, se possível, à salvo de tiros de canhão.

É possível destilar alguma essência cultural para trazer esta inacreditável trajetória para o nosso momento presente pois, afinal, compartilhamos o mesmo reino durante muito tempo e, de certa forma, até hoje o fazemos no conjunto de países que falam a língua portuguesa. Há a típica expressão que diz: “O Brasileiro nunca desiste.” Nunca saberemos exatamente a origem da expressão popular mas ela certamente está retratada lá atrás, na perseverança e na fé de uns poucos que, com muita criatividade e coragem, não se deixaram abater em nenhum momento ante uma situação que desafiava qualquer vestígio de otimismo. E há também a expressão que diz: “No Brasil, o sucesso é uma ofensa pessoal”. A expressão, erroneamente atribuída ao artista Tom Jobim mas que tem ampla aceitação e é igualmente usada por economistas e empreendedores, também estava lá na situação de Duarte Pacheco. Ele, que superou os 300 de Esparta e enfrentou com êxito o os maiores desafios, acabou tragado pela inveja de criaturas de gabinetes e de burocracias. A ojeriza ao sucesso, uma patologia cultural jamais plenamente superada, fez com que Duarte Pacheco se tornasse mais um nome em nossa longa lista de heróis insolentemente combatidos, ridicularizados e, por fim, apagados da nossa história. Seja como for, com nossas luzes e sombras, este projeto compartilhado, universalista por sua natureza católica e forjado pelos sucessores dos Cavaleiros Templários, possui méritos que os nossos modernos colonizadores jamais ousarão reconhecer. Convém lembrar que não há por que invejar Esparta ou qualquer outro; antes, há em nossa história motivos de sobra para justa iração. Mesmo que nunca virem filme.        

The 150 Braves Who Sured Sparta

The incredible story of a handful of Portuguese soldiers who faced at least 60,000 heavily armed men in India. Unlike the fateful 300 of Sparta, the unbelievable victory of the 150 never became a movie.    

The world was undergoing tremendous change. Constantinople had fallen, and new powers occupied strategic positions, redrawing the maps. The ancient axes of global trade shifted hands. Some gates opened, while others closed. Mighty Venice would never again regain the prominence it had held since at least the time of Marco Polo, linking Asia to Europe. The time had come to prove that the Earth was round, that new paths would emerge for the pepper of one kingdom to be traded for the gold of many. This is also a story filled with prophecies, and a spirituality that books often fail to mention. Even the most ardent atheist and materialist must it that greater forces than mere metal shape the world, which is guided by principles, virtues, and cultural forces that reshape it. A strong culture can attract prosperity, while prosperity without a strong culture is unlikely to endure.

The small, outlying kingdom of Portugal received its divine message—or foundational myth, if you will—at its very inception in 1139, with the Miracle of Ourique: that the heavens would protect it. Portugal would emerge victorious against far greater enemies because it was prophetically destined to bring the faith to peoples whom no one at the time even suspected to exist. This was the same kingdom that, later, became the only one to offer asylum and protection to the Knights Templar, who were hunted down elsewhere, and from that final sanctuary, they kept their sense of mission intact. It was their crosses, slightly modified and renamed the Order of Christ that adorned the sails of the ships that ventured into the unknown. While the riches and rewards could be immense, there was also a fundamental element of glory and service, which acted as a kind of nuclear fuel for overcoming a formidable destiny.

At the beginning of the 16th century, the Indian Ocean became a battlefield between the old controllers and the new contenders for the spice trade routes. On one side were the Muslim Arabs, who had long held alliances and privileges in India, especially in the ports along the Malabar Coast, where the king, or Samorin, of the city of Calicut, was the most important authority. The tiny Portuguese contingents arrived to challenge the powerful crescent banner that controlled trade and called its prayers five times a day. To offset their overwhelming numerical disadvantage, the Portuguese relied on superior naval technology and artillery, as well as a rare determination to accomplish what seemed impossible, ed by a faith that, today, seems almost unimaginable.

The spark of the war was betrayal. A group of Portuguese traders trusted the protection offered by the Samorin of Calicut and settled in the area without building a fort or taking additional security measures. It didn’t take long for them to be killed in 1500 by Muslim rivals. The Samorin refused to punish the aggressors, and diplomatic ties were severed. In 1502, Vasco da Gama bombarded Calicut in retaliation, and Duarte Pacheco Pereira arrived shortly after, in 1503. A significant aspect of this break is that, upon arriving in India, Duarte Pacheco found a Samorin of Calicut who, despite the unpunished massacre of the Portuguese and the subsequent bombardment he had suffered, still seemed willing to maintain an amicable relationship. As a gesture of goodwill, the Samorin sent him a valuable gift of pepper. However, Duarte Pacheco firmly refused the gift, saying, “Friendship is not bought with spices, but maintained with honor and justice.” This refusal of the generous diplomatic offering decisively sealed the end of the fragile calm between them and marked the beginning of an irreversible war.

At the heart of this conflict was Cochin, a small rival kingdom to Calicut, which saw in the Portuguese an opportunity to free itself from the Samorin’s hegemony. The alliance with the Portuguese turned Cochin into a direct target of Calicut’s fury. In early 1504, the Samorin mobilized a massive invasion force estimated at least 60,000 men, with some sources citing between 80,000 and 84,000 if auxiliary forces are also counted. The Samorin’s forces were generously supplied with firearms by the Ottoman Empire and also benefited from the powerful artillery of European cannons, provided by a resentful Republic of Venice, which at the time was also one of the powers harmed by the growing Portuguese spice trade in the Indian Ocean. On land, acting as an armored infantry, there was a contingent of 300 war elephants. By sea, a colossal fleet of 200 ships was assembled. The Samorin’s objective was clear: to employ an overwhelming force to wipe out his small rival, Cochin, and expel once and for all the diminutive Portuguese presence on the Indian coast.

The certainty that this overwhelming invasion would be swift and strike as a violent and definitive blow to Cochin’s audacity, however, dissipated as quickly as the sound of drums and trumpets carried by the wind. As the days and weeks ed, surprising foreign powers from afar and the various kingdoms allied with the Samorin on the ground, the toll of casualties and destruction kept growing. More than four months of total siege ed, from March to July 1504, during which the Samorin ordered seven major assaults, all of which failed and progressively drained his troops and morale. At the center of the unbelievable Portuguese defense stood a small fort built from palm tree trunks in just two months—and even more remarkably, there is no historical record of any fatalities among the small garrison of 150 men, though many were wounded. The dwindling force of Cochin’s local allies, unprepared for a conflict of such scale, repeatedly abandoned the fight, leaving the Portuguese alone and nearly on the brink of ruin at critical moments. Perhaps, to better understand how the Portuguese faced that madness head-on without abandoning their positions, it is worth recalling Duarte Pacheco’s words during the battles against the Samorin: “Portugal’s honor is not negotiable, even if the price is total sacrifice.” It was, in fact, completely counterintuitive to imagine there was even the slightest chance of victory—and it is precisely in this spirit of bravery and fearlessness that, despite the very different outcomes, one can draw yet another parallel between the Portuguese and the Spartans.

The successful defense of the kingdom of Cochin was, however, not due solely to Duarte Pacheco’s legendary bravery—he also demonstrated decisive tactical genius throughout the conflict. Making use of highly accurate tide predictions, deep knowledge of the coastal geography, and astronomy—a field in which he was a recognized expert—he was able to anticipate the ideal moments to strike or reinforce vulnerable positions. The Portuguese were so few that, depending on the tide, they had to move swiftly from one side of the defensive perimeter to the other just to ensure someone was present to face the enemy assaults. It was scientific knowledge, combined with self-control and faith that defied fear, that allowed the same handful of men to cover the most varied areas of engagement. The immense enemy force, which had arrived expecting an easy victory over that tiny gleam of swords, did not anticipate the unprecedented military choreography that executed its movements with the precision of a clock.

Beyond bravery and faith, science and discipline, Duarte Pacheco also successfully established an intelligence and counterintelligence network with local agents. This enabled him to discover in time plans to poison their supplies, sabotage attempts, and nocturnal fires. In the realm of counterintelligence, he also managed to lure the enemy into traps, constantly disorienting and confusing the besiegers. This reveals a lesser-known aspect: Duarte Pacheco’s sensitivity, as a bearer of an integrating culture, which allowed him not only to understand the local geography but also to quickly grasp the customs and the codes of friendship and relationships specific to the Malabar coast region. And so, in July 1504, after months of incredible resistance and successive disastrous defeats for the Samorim, he withdrew permanently from the region. The murky drop that overflowed the bitter cup of his inevitable decision to acknowledge failure, was the news that, at last, a Portuguese fleet was approaching to relieve the 150 men who, despite many injuries, were still holding firm. When he withdrew, of the roughly 200 ships he had mobilized to crush Cochim, it is estimated that 160 had been destroyed or captured by that handful of Portuguese. The Samorim’s authority, as leader of a vastly superior military force, was deeply shaken. Meanwhile, the Portuguese military reputation soared to new heights in the East, drawing in allies of all kinds and varying degrees of sincerity.

At the end of the campaign, Rajah Trimumpara, sovereign of the Kingdom of Cochim, deeply grateful for the decisive defense of his land, granted Duarte Pacheco a coat of arms rich in symbolism. According to the book “History of the Discovery and Conquest of India by the Portuguese” from 1551, the red shield evoked the blood shed; five golden crowns on a saltire represented the kings allied with the Samorim who had been defeated in battle; a white border with blue waves, adorned with eight castles on two ships, symbolized the Portuguese naval victories; and seven banners recalled the seven attacks they had endured. At the top, above a silver helmet, stood a castle with a red banner, representing Cochim’s loyalty. In addition to the coat of arms, the Rajah offered Duarte Pacheco a generous load of pepper as a personal recognition. However, aware of the hardships his ally and friend faced after the destruction caused by the war, Duarte Pacheco firmly refused the gift. This noble and selfless gesture reinforced his image as a commander driven by motives beyond personal reward, motivated also by honor and a sense of mission—an act whose news quickly spread throughout the region, significantly impacting the reputation of the Portuguese. When Duarte Pacheco returned to Portugal in 1505, King Manuel I welcomed him with honors and celebrated him as a national hero. However, over time, his success caused envy and intrigue at court. In 1519, he was appointed captain of the São Jorge da Mina fortress in West Africa. During his tenure, he faced accusations of corruption and abuse of power, leading to his recall to Portugal where he was eventually imprisoned. He was later cleared and acquitted by the Crown, but lost his position and influence at the Portuguese court forever. Even with his feats of leadership, courage, and military genius ranking among the greatest ever recorded, men like Duarte Pacheco could encounter serious resistance in the circle of the political elite, whose battlegrounds were the power games at court, fueled by wine and, if possible, at a safe distance from cannon fire.

It is possible to extract some cultural essence from this incredible event, which would allow us to bring it into our present times. After all, we shared the same kingdom for a long time, and in a way, we still do, as part of the ensemble of countries that speak the Portuguese language. We have a typical expression that says, “A Brazilian never gives up.” We may never know exactly where this expression originated, but it is certainly reflected back in the perseverance and faith of a few who, with great creativity and courage, did not allow themselves to be disheartened at any moment in the face of a situation that challenged any trace of optimism. There is also the expression that says, “In Brazil, success is a personal offense.” This expression, mistakenly attributed to the artist Tom Jobim but widely accepted and often used by economists and entrepreneurs, was also reflected in the situation of Duarte Pacheco. He, who outshone the 300 Spartans and overcame the gravest trials, was, in the final analysis, defeated not on the battlefield, but in the halls of power, by envy and pettiness. The resentment of success, a cultural pathology never fully overcome, led Duarte Pacheco to become just one more name on our long list of heroes shamelessly opposed, ridiculed, and ultimately erased from our history. All things considered, with our lights and shadows, this shared project of ours, universalist by its Catholic nature, forged by the successors of the Knights Templar, has merits that our modern colonizers will never dare to recognize. There is little cause to envy Sparta—or any other—for our own past offers its share of deeds worthy of deep reverence. There is little cause to envy Sparta—or any other—for our own past offers its share of deeds worthy of deep reverence. Even if they never become a movie.

*Por Olav Schrader

Olav Schrader é especialista em patrimônio cultural, escritor, palestrante, consultor e gestor de projetos. Tem Bachelor´s Degree e M.A. – Master of Arts pela Universidade de Amsterdam, Reino dos Países Baixos e Diploma de Pós-Graduação pela Universidade de Deusto, Espanha, na área de Relações Internacionais, com ênfase em História e Cultura. Desde 2006, participa de projetos ligados ao Patrimônio Cultural Brasileiro. Foi superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro, de 2020 a 2023.

ment
Receba notícias no WhatsApp e e-mail
Olav Schrader
Olav Schrader é especialista em patrimônio cultural, escritor, palestrante, consultor e gestor de projetos. Tem Bachelor´s Degree e M.A. – Master of Arts pela Universidade de Amsterdam, Reino dos Países Baixos e Diploma de Pós-Graduação pela Universidade de Deusto, Espanha, na área de Relações Internacionais, com ênfase em História e Cultura. Desde 2006, participa de projetos ligados ao Patrimônio Cultural Brasileiro. Foi superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro, de 2020 a 2023.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui