Uma operação integrada das forças de segurança resgatou, nesta segunda-feira (12), paraguaios submetidos a condições análogas à escravidão em uma fábrica clandestina em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A ação contou com a participação da Polícia Federal (PF), da Polícia Civil, por meio da FICCO/RJ, e do Ministério Público Federal, com o GAECO.
Segundo o delegado Felipe Montes, da PF, os trabalhadores foram atraídos ao Brasil com falsas promessas de emprego. “Usualmente são promessas de vagas na indústria têxtil e na construção civil com salários de até R$ 5 mil. Mas, na realidade, recebem valores irrisórios ou nada”, explicou.
Cinco homens, todos brasileiros, foram presos em flagrante suspeitos de atuarem como gerentes e supervisores no galpão. O local, com estrutura para abastecer o mercado ilegal de cigarros em diversas regiões do estado, foi interditado. Os responsáveis podem responder por crimes como tráfico internacional de pessoas, submissão a trabalho escravo, formação de organização criminosa, crime contra a saúde pública, falsificação, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção.
Em nota conjunta, as autoridades afirmaram: “O tráfico de trabalhadores paraguaios para fábricas clandestinas de cigarro é uma rota recorrente no Brasil, pois essa mão de obra especializada é bastante comum naquele país, o que torna essas vítimas vulneráveis a esse tipo de exploração”.
De acordo com Leandro Artiles, delegado da subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil (PCERJ), o cenário encontrado era alarmante. “Eles eram mantidos em condições de higiene precária, num alojamento péssimo, quente, com baixa circulação de ar, fora o barulho das máquinas. Uma situação degradante e insalubre”, relatou.
O caso remete a operações anteriores. Em março de 2023, uma ação em Campos Elíseos, em Duque de Caxias, também resgatou 23 paraguaios e um brasileiro em situação semelhante. Na época, os trabalhadores relataram terem sido trazidos do Paraguai com os olhos vendados e mantidos incomunicáveis sob ameaças constantes.
Além da exploração de pessoas, o episódio reacende suspeitas de corrupção dentro da estrutura policial. Um maquinário de fabricação de cigarros, com cerca de seis metros de comprimento e peso equivalente ao de um elefante, desapareceu misteriosamente da Cidade da Polícia Civil, no Jacaré, em 2023. Outros equipamentos também sumiram, como três máquinas embaladoras e um cilindro de gás.
A investigação também apontou ligação da fábrica clandestina com o contraventor Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, foragido desde o ano ado. Ele é suspeito de envolvimento nos assassinatos do miliciano Marquinho Catiri e de Alexsandro José da Silva, o Sandrinho, além de ser considerado herdeiro da contravenção em Duque de Caxias e responsável pela expansão da máfia dos cigarros em outras regiões do Rio. Um mandado de prisão contra ele ainda não foi cumprido.