O Sistema Único de Saúde (SUS) atingiu um marco histórico em 2024: mais de 30 mil transplantes realizados em todo o Brasil. O número representa um crescimento de 18% em relação a 2022. Só o estado do Rio de Janeiro respondeu por 1.665 procedimentos, incluindo transplantes de córnea (617), rim (590), fígado (312) e medula óssea (97).
“Temos que celebrar esse recorde. É a reafirmação do Brasil como o país que mais realiza transplantes via sistema público no mundo”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante coletiva realizada na última quarta-feira (4).
O anúncio veio acompanhado de uma série de medidas para tornar o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) mais moderno, ágil e seguro. Entre os principais avanços está a introdução da Prova Cruzada Virtual, uma tecnologia que cruza dados imunológicos armazenados em sorotecas e antecipa a chance de compatibilidade entre doador e receptor. A nova técnica deve entrar em vigor após consulta pública e publicação de novo regulamento técnico, prevista para setembro.
Outra mudança significativa será a reorganização das regiões de alocação de órgãos, que ará a priorizar a distribuição dentro das próprias regiões geográficas, respeitando critérios técnicos e logísticos. A alteração busca corrigir distorções criadas em 1997, quando estados com maior conectividade aérea, como São Paulo, concentravam o recebimento de órgãos de diversas regiões.
No caso do Rio, cerca de 7.500 pessoas aguardam por um transplante em 2024: são 5.100 pacientes à espera de córnea, 2.200 de rim e 151 de fígado.
Além das mudanças estruturais, o Ministério da Saúde também anunciou o PRODOT (Programa Nacional de Qualidade em Doação para Transplantes), voltado à capacitação das equipes de saúde que fazem as entrevistas com as famílias dos possíveis doadores. “Como aumentamos o número de transplantes? Aumentando o número de doadores. E isso a por acolhimento e escuta qualificada”, explicou Patrícia Freire, coordenadora nacional de Transplantes.
Atualmente, 45% das famílias abordadas se recusam a autorizar a doação de órgãos no Brasil. Em países como a Espanha, esse índice gira entre 8% e 10%. No total, 4 mil doadores efetivos contribuíram com os transplantes realizados no país em 2024.
Outro destaque é o início da oferta, pelo SUS, do transplante de intestino delgado e multivisceral, voltado a pacientes com falência intestinal irreversível. A novidade posiciona o Brasil entre os poucos países com esse tipo de procedimento no sistema público. Hoje, cinco hospitais estão habilitados — um no Rio e quatro em São Paulo.
A pasta também anunciou o uso da membrana amniótica como curativo para queimaduras, com previsão de ampliação para afecções oculares. A técnica reduz dor, risco de infecção e tempo de cicatrização.
Por fim, houve reajustes em procedimentos relacionados à córnea, como retirada de globo ocular, sorologia e preservação do tecido, com aumentos superiores a 50% nos valores reados, fortalecendo os bancos de olhos e ampliando a capacidade de atendimento.
Mais de 85% dos transplantes realizados no Brasil são financiados pelo SUS, que também oferece, gratuitamente, os medicamentos imunossupressores utilizados pelos pacientes por toda a vida.